Mudar o regime Servir Portugal

Manuel Beninger

domingo, 30 de dezembro de 2012

O que diz o Chico enquanto mata o bicho


Estes dias decidi fazer um périplo por algumas freguesias periféricas do concelho de Braga. A meio da manhã, parei numa ao acaso, a fim de sentir o pulsar da populaça.
Entrei no bar de uma colectividade desportiva, surpreendido por encontrar tanta gente àquela hora de um dia de semana. Uma das peculiaridades das freguesias da periferia de Braga é que todas têm um clube de futebol. E todos os clubes de futebol têm uma sede. E todas as sedes dos clubes de futebol têm uma tasca, se bem que nalguns casos uma e outra são a mesma coisa.
Aprocheguei-me do balcão e meti conversa com um dos locais frequentadores, o Chico, indivíduo de meia idade que naquele momento aviava um turbo (cocktail de cerveja com vermute). Pelo jeito como tresandava a álcool, depreendi que aquela não seria a primeira bebida que emborcava nessa mesma manhã!
O Chico está desempregado, trabalhava como operário da construção civil numa dessas grandes empresas que faliu recentemente. Diz que ninguém lhe dá trabalho, o crónico problema de muitos desempregados deste país: velho de mais para ser empregado, novo de mais para ser aposentado.
Pergunto-lhe se gosta de viver naquela terra. Faz um esgar de ombros, brande as sobrancelhas e lá vai dizendo que sim. Nasceu ali, cresceu ali, não se imagina a viver em mais nenhum lugar. Em tempos propuseram-lhe emigrar para Angola, a troco de um soldo generoso. Recusou.
Como a manhã estava solarenga e já fizera uma certa afinidade com o Chico, convidei-o a acompanhar-me num passeio pedonal pelas cercanias. Saímos da tasca-sede do clube e viramos em direcção ao campo de jogos, onde abordo a questão da política autárquica.
O Chico revela-se um apoiante incondicional do actual presidente do município, no qual depositou a confiança em forma de voto nos sucessivos sufrágios. A intenção de voto nunca foi peremptória no partido político, porque ele é da opinião que são todos iguais, mas no homem. Agora que este já não se pode recandidatar, afirma-se indeciso na próxima escolha. Provavelmente, votará contra os partidos do governo. Ou então, nem sequer lá vai exercer o seu direito.
Conversa puxa conversa, inquiro-o sobre o porquê da manifestada fidelidade para com o actual presidente do município e o Chico lá se vai descosendo: “Ele pode roubar, mas ao menos faz obra.”, comenta o Chico enquanto exibe com orgulho o recém-estreado relvado sintético do campo de futebol. “Veja só esta maravilha!”, exclama o Chico ufanoso. “A sede do clube foi ele que deu dinheiro para a fazer. E foi ele também que fez as piscinas e a sede da junta”. E remata o seu discurso desta forma: “Se fosse outro que estivesse no poleiro, roubava na mesma e não fazia nada”.
Fico surpreendido pela forma leve como o Chico arremessa estes bitaites a respeito da conduta do presidente do município e pergunto-lhe porque faz tais afirmações. “É o que toda a gente diz”, justifica ele.
Tal como diz o povo: “há muitas maneiras de se matar moscas”; também a política tem várias maneiras de a fazer. A política despretensiosa destinada à realização do bem-comum e à governação racional do que é de todos é uma das vias. Infelizmente, a história mostra que em termos eleitorais é mais eficaz uma política populista, assente em dispendiosas obras de fachada, associada a boas tácticas de propaganda.
Segundo noticia hoje o Diário do Minho, em ano de eleições autárquicas a Câmara vai entrar com 250 mil euros para obras nas freguesias. Mais uma vez é seguida a estratégia de maior eficácia eleitoral.

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