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Manuel Beninger

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Como foram mortos o rei D. Carlos e o filho

OS DIAS EM QUE O DN CONTOU: No dia 2 de fevereiro de 1908, o Diário de Notícias chamou à sua primeira página a notícia do atentado ocorrido na tarde da véspera e que vitimou o rei D. Carlos e o príncipe herdeiro Luís Filipe. Durante os 20 dias subsequentes, o jornal manteve nas suas páginas notícias relacionadas com o acontecimento. Em algumas edições, como no dia dos funerais – a que assistiram delegações estrangeiras -, o tema ocupou várias páginas, ilustradas por desenhos.

No domingo 2 de fevereiro de 1908, à largura das oito colunas da sua primeira página, em letras visíveis a uma razoável distância, o DN dá a notícia do “Gravissimo attentado contra a família real/ Morte d’El-Rei e do Príncipe Real D. Luiz Filipe”. Nessa chamada, que é simultaneamente editorial, o jornal assume que não irá dar qualquer novidade à população de Lisboa sobre os acontecimentos ocorridos ao fim da tarde da véspera, uma vez que estes “já devem ser do conhecimento de todos”. Mas, para acabar com rumores que sempre surgem nestas ocasiões, o jornal fará o relato de “todos os factos” sem os comentar. E, de facto, assim acontece ao longo dos 20 dias em que o regicídio e as suas consequências marcam presença nas páginas do jornal.
Ainda no editorial desse dia é afirmado que na história de Portugal “não se registava até hontem um unico regicidio”. E o texto, que sublinha o repúdio perante tal ato, lamenta que tenha sido atingido, “alem do chefe do Estado, o seu filho primogenito para o qual tantas esperanças se voltavam e cuja irresponsabilidade na direcção dos negócios publicos parecia dever pôl-o a coberto de uma vingança tanto mais condemnavel quanto é certo que attingia innocentes”.
Fruto de um trabalho de equipa, o DN revela aos seus leitores como ocorreram os factos, como reagiu o País e o estrangeiro ao “acontecimento sensacional, como nunca se tinha dado entre nós” – o assassínio do rei D. Carlos e do príncipe herdeiro Luís Filipe “a tiros de carabina quando passavam pelo Terreiro do Paço de regresso de Vila Viçosa e se dirigiam para o Paço das Necessidades”.
O atentado contra o Rei Agrícola – um dos cognomes pelos quais ficou conhecido D. Carlos – surpreendeu e entristeceu o País em geral, no entanto, “estava escrito na parede” que algo assim iria acontecer…
A agitação social e política que se registava no País já vinha do tempo de D. Luís (1838–1889), mas agudizou-se no reinado de D. Carlos com a questão do Mapa Cor-de-Rosa e adquiriu foros de violência, devidamente aproveitada e alimentada pelos republicanos, com a ditadura de João Franco, que o monarca chama para o poder em 1906.
Fundador, em 1901, do pequeno partido Regenerador-Liberal, João Franco percebe que não conseguirá governar com aval parlamentar e pede ao rei que dissolva o Parlamento passando a governar por decreto. D. Carlos aceita: faz assim a primeira assinatura da sua sentença de morte. A definitiva fá-la em Vila Viçosa, nas vésperas de regressar a Lisboa, quando João Franco lhe apresenta o decreto que pune com o degredo os acusados de crimes políticos. O decreto tinha como alvo os republicanos e progressistas que, a 28 de janeiro de 1908, tentaram uma revolução.
A 1 de fevereiro, a família real regressa de Vila Viçosa onde o rei tinha por hábito passar todos os anos a temporada de caça. Esse ano não foi exceção, apesar da agitação política e social que se vivia no País. Na estação fluvial do Terreiro do Paço, onde chega com atraso, tem a esperá-la muita gente e membros do governo, entre eles o odiado João Franco, que manteve alguns momentos de conversa com o rei, enquanto a rainha era presenteada com um ramo de flores que lhe levou uma criança. Depois D. Carlos, D. Amélia, D. Luís e o infante D. Manuel partiram em direção às Necessidades. Em carruagem aberta, porque a tarde estava amena e porque o rei queria dar uma ideia de normalidade. “Já a carruagem real tinha passado em frente do ministerio da Fazenda quando se ouviu um tiro que, segundo pessoas que presenciaram o facto, fôra de carabina e disparado por um homem que vestia casacão, e que tinha saído da fila do povo que estacionava no passeio, do lado da praça”, conta o DN. A esse tiro outros se seguiram, com as consequências que se conhece: o rei e o príncipe herdeiro morreram, o infante D. Manuel ficou ligeiramente ferido num braço. Mortos também os dois assassinos: Manuel Buiça e Alfredo Costa.
Depois, é a proclamação do jovem – 19 anos – e novo rei, a quem o DN deseja que seja tão “venturoso” como foi o primeiro monarca com esse nome, e a escolha de um novo chefe de Governo, Ferreira do Amaral, de quem o jornal fez um pequeno perfil.
E à medida que se procura estabilizar a vida política, preparam-se os funerais que trazem a Lisboa inúmeras delegações de casas reais europeias com as quais o rei tinha ligações familiares ou apenas amizades. Por exemplo, em Londres, foi decretado luto pela morte do monarca português. Da França republicana veio também uma delegação. “Dezenas de jornalistas estrangeiros” acorreram também a Lisboa para cobrirem o que estava a acontecer, tal foi o impacto do regicídio além-fronteiras.
D. Manuel II, que não estava preparado para reinar, afirma querer fazer o melhor para a nação, mas todos os seus esforços não serão capazes de travar as ideias republicanas que se afirmam e que acabam por vencer em outubro de 1910.
LUMENA RAPOSO

Nas dezenas de páginas que o DN produziu relacionadas com o atentado que vitimou o rei D. Carlos e o príncipe herdeiro Luís Filipe não existe a assinatura de um único jornalista, editor ou diretor do jornal. Percebe-se que todo o trabalho foi fruto de uma equipa que não se poupou a esforços para dar diariamente ao leitor o que acontecia nas principais cidades e nas pequenas cidades de província de onde chegavam a Lisboa milhares de telegramas de condolências e onde foram rezadas missas em memória de D. Carlos e do príncipe. Além disso, os redatores do DN responderam positivamente ao pedido de informações de jornais da Europa e do Japão que “queriam saber o que se estava a passar em Lisboa”.

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